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Visibilidade trans: como construir o espaço que precisamos?

#MudeANarrativa

Fazendo uma rápida retrospectiva dos últimos anos no Brasil, não encontramos boas estatísticas para a população trans. Mais de 70% de nós fomos excluídes do ensino básico formal e, por isso, não concluímos o ensino médio. Menos de 12% de nós sequer chegamos ao ensino superior. Vivemos no país  recordista, por mais de 12 anos seguidos, na categoria “país que mais mata pessoas trans”, fazendo nossa expectativa de vida ser de 35 anos. Como que eu posso acreditar que está tudo bem ser quem eu sou?

Uma das questões que muitas vezes nos leva a lugares de solidão extrema é a falta de ter com quem falar, em quem se espelhar. É se sentir ume alienígena no meio de uma imensidão de pessoas cis. 

Quando eu vejo criadores de conteúdo como @BryannaNasck, @hellobielo, @PepitaOfc, @rbcgaia e tantas outras pessoas passando pela timeline e participando de campanhas, fazendo publis e, além disso, compartilhando suas vivências e questões no tempo livre, me sinto abraçada. E não só abraçada por cada e por todes ao mesmo tempo, mas também vejo com menos incerteza um possível caminho profissional.

 

Mas será que ser parte de campanhas basta?

Com certeza já é um início. Ao perceber que existem pessoas como nós que conseguiram chegar em lugares de destaque profissional, abrem-se diversas novas possibilidades — antes inimagináveis — de ser uma pessoa trans no mundo. Mas posso te garantir: mesmo fazendo tão somente o recorte de vida profissional, temos um longo caminho pela frente. 

Ainda habitamos um "não-lugar" na sociedade, de forma bastante estrutural. A maioria de nós está em um limbo da falta de educação, na falta de perspectiva profissional e se vê na necessidade de procurar alternativas à situação. Será que uma empresa estaria disposta a nos acolher e percorrer esse caminho conosco? 

Além de nos dar a possibilidade de tornar possível e real fazer esse caminho, essa empresa traria consigo a potência de espalhar essa esperança para tantas outras pessoas mundo afora. Isso só se conquista com participação direta e diálogo real. Não podemos mais, em pleno 2022, nos esconder atrás de datas, de figuras ou até de taglines. Temos que ser e viver a possibilidade de construção desse espaço que queremos.

Qual a vida útil de uma empresa/marca que não se envolve com os assuntos relevantes para a sociedade?

 
A construção acontece agora

Verdadeiramente, estamos diante de uma situação incrível para essa reflexão. Em 2022, em sua 22ª edição, o BBB trouxe para o horário mais nobre da televisão brasileira, e da timeline twitteira, uma das travestis com maior visibilidade do Brasil: a Linn da Quebrada. Junto com cada acontecimento da casa, milhares de pessoas trans estão compartilhando, segundo a segundo, suas vivências, suas identificações com a cantora, suas indignações e palavras de apoio em relação às transfobias de que tem sido alvo. 

Fica, então, o desafio provocativo para as marcas: que tal acordarmos para o mundo e construirmos essa realidade que queremos? Que tal sermos relevantes culturalmente? Contratem não só criadores trans, mas também funcionáries e pessoas em posições de decisão. Apostem nas possibilidades únicas que cada realidade pode trazer para o seu cotidiano e para o seu plano de negócios. Traga histórias genuínas e se disponha a percorrer o caminho apesar das adversidades. 

 

Para saber como tornar o seu marketing ainda mais inclusivo, leia nossos artigos:

 

Naomi Pomella é uma mulher trans de 21 anos, estudante de Física na USP. Aquela que não via nenhuma possibilidade no mercado de trabalho, atualmente é estagiária do time de Pesquisa do Twitter Brasil, onde trabalha com desenvolvimento e apresentação de relatórios de campanhas, além de análise, processamento e tradução de dados. Com o objetivo de mostrar que está tudo bem ser quem se é, sonha em ser fator de mudança em qualquer lugar que passe e de influência para qualquer pessoa, principalmente transvestigênere, que possa precisar de apoio, esperança ou até de uma simples conversa.

 

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