Insights

O importante papel da publicidade na inclusão das mulheres trans e travestis

#MudeANarrativa

Convidamos Rebecca Gaia, creator e travesti, para falar sobre Publicidade, Marketing e Imaginário Social.

Dia Internacional da Mulher. Da mulher. Não da cis, não da branca, simplesmente “da mulher”. Não há nenhuma sugestão que essa data é destinada a algum grupo específico de mulheres, então por que ainda enfrentamos uma “dificuldade” em poder assistir mulheres trans e travestis aparecendo em qualquer coisa relacionada a data? O imaginário social nos leva a excluir essas pessoas, mesmo que de forma indireta, afinal, se travestis e mulheres trans não são vistas nem como possibilidade, como, ao pensar na “forma mulher”, posso cogitar ter uma pessoa trans sendo escalada para simbolizar algo em determinado espaço? 

 

Quão diverso é o seu imaginário a ponto de ouvir a palavra “mulher” e automaticamente pensar em uma figura para além do corpo cisgênero?

Hoje em dia podemos observar um avanço cada vez maior quando se fala na representação de mulheres plurais, mas ainda assim o espaço da mulher trans e da travesti acaba sendo mínimo, mesmo em datas voltadas exclusivamente para falar de mulheres. 

Representar é abrir possibilidades no “imaginar”. Qual o impacto que teríamos se uma mulher trans ou travesti fizesse parte de uma campanha apenas vivendo a vida, nos oferecendo algo comum e não estando ali para falar apenas sobre sua própria identidade? O quão transformador pode ser levantar um discurso inclusivo de verdade? Quando se reduz uma travesti ou mulher trans apenas ao que ela é, estamos ignorando, mesmo que indiretamente, toda e qualquer trajetória tida para além disso. A nossa identidade respinga em muitas experiências, isso é inegável, mas muita coisa acontece também. Precisamos pensar em criar uma imagem natural para que todas as outras pessoas também possam começar a naturalizar a nossa própria existência, tanto nas campanhas publicitárias quanto no nosso dia-a-dia. 

Com isso, deve-se direcionar a atenção em outra coisa muito importante: discurso e transformação social promovida a partir dele. Enxerguem todas nós, não só uma ou outra. Vamos empregar a que se formou em pedagogia e, ao mesmo tempo, pensar em escalar outra para o cast de grandes campanhas. Vamos buscar cada vez mais uma inclusão ampla, diária e contínua em todos os aspectos: profissionais e pessoais. Não está tudo bem se só uma de nós puder sentir o gostinho da vitória, todas nós temos esse direito. Precisamos cada vez mais pensar em uma inclusão que sirva para incluir de fato. Afinal, o boleto chega para todas, mas como colocaremos comida na mesa se ainda há uma seletividade e exclusão de corpos como os nossos nesses espaços? Algumas grandes empresas, por exemplo, abrem vagas exclusivas para determinado grupo social com objetivo de atingir uma inclusão significativa. Outras buscam um elenco diverso para estar em uma grande campanha. Isso tudo é de extrema importância. Precisamos buscar cada vez mais não só representar no discurso, mas também em ações, afinal todo discurso deve vir acompanhado de uma transformação social promovida a partir dele. Quando o discurso não vem acompanhado de uma ação concreta, tudo o que temos como resultado final é uma representatividade feita apenas para tapar o sol com a peneira.Temos, no fim das contas, uma maneira de esconder que determinado problema existe e encontramos então uma solução mínima para resolvê-lo. 

 

Estar disposto a abraçar e nos dar espaço requer também uma responsabilidade em outros aspectos.

Essa representatividade ao mesmo tempo que trás um avanço, pode também trazer um conformismo se não pensarmos para além dela. Mesmo com tudo isso rolando, ainda enfretamos uma realidade em que, segundo levantamento da Associação Nacional de Transexuais e Travestis, o Brasil segue sendo o país em que 90% das travestis e mulheres trans tem a prostituição como única forma de subsitência. Para chegar a 100%, falta apenas 10%. Não estamos em uma situação de nos conformar com o que temos e acabou. Não podemos, de maneira alguma, pensar que uma única travesti é a chave do sucesso para que todas as outras parem de enfrentar diariamente o que enfrentam. Ainda precisamos gritar e se o nosso grito precisa ser mais alto a cada dia que passa, é porque não chegam nem perto de nos ouvir. 

Devemos almejar cada vez mais um futuro em que as travestis poderão existir para além da travestilidade. Quero atualizar a timeline do Twitter e dar de cara com a notícia de que uma travesti passou em primeiro lugar no vestibular de uma universidade federal. Quero viver em um mundo que não nos reduza apenas ao que nós somos, porque nos reduzir a isso é também apagar toda a nossa trajetória. Desejamos também um futuro onde a inclusão sirva para trazer para todas nós ogostinho de viver uma vida digna. Afinal, a inclusão de verdade é aquela que busca transformar determinados espaços cotidianamente, muito para além de datas especiais ou eventos específicos. 

Me bate uma felicidade tremenda quando vejo minas trans ou travestis passando na timeline do Twitter fazendo publis diversas, indo para muito além do mês da visibilidade trans, do orgulho LGBTQ+ ou Dia Internacional da Mulher. Nós também podemos viver uma vida comum, assim como qualquer outra pessoa. Esse é de longe o meu maior desejo: que nos olhem cada vez mais com um olhar humano, de pertencimento e possibilidade. 

 

Por um futuro travesti!

 

Rebecca é um grande nome da internet, principalmente no Twitter, a rede social de maior presença da influenciadora, onde reúne um público super engajado para debater sobre diversos assuntos.
A cada postagem, a criadora de conteúdo mostra a versatilidade do seu repertório, abordando causas sociais, mas também diversas temáticas do cotidiano, como culinária, relacionamentos, entretenimento e muito mais. 

 

Related Content

Os insights de marketing mais recentes do Twitter. 

Increva-se na nossa newsletter agora.